quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Se minhas línguas falassem… alto

Não haveria diferença nenhuma entre mim e aqueles que são vistos como loucos "alto-falantes", que parecem ter a função de refletir o que guardamos a sete chaves. No entanto, eu me desqualifico dessa categoria, porque, aparentemente, tenho o controle do volume. 

Se não fosse o volume, elas diriam cheias de gratidão “je suis fou pour te donner un bisou” (estou doida para te dar um beijo) sempre que alguém gostasse do que elas dissessem. Apesar de adorarem esse idioma que se pronuncia fazendo um biquinho, elas jamais olhariam para o mundo com ar blasé.

Porque para elas o mundo é um lugar misterioso, cheio de nuances, ciladas e veredas estreitas, e, por fim, porque elas preferem ser gullable (genuínas) a serem indiferentes.

E apesar de acreditarem em tudo que dizem, elas jamais diriam que fizeram um sacrifício por alguém, elas usariam a precisão alemã e diriam que foram vítimas (de si) por alguém, pois em alemão a palavra opfer significa sacrifício e vítima ao mesmo tempo; e ao dizer que se fez um sacrifício por alguém, diz-se que se foi vítima também, em raros casos em que uma palavra tem dois significados. 

Ah, se vocês as vissem de perto, vocês diriam que elas podem ser agressivas, porém somente em espanhol, elas retrucariam.

“?No vés que está cerrada la puerta?” É o que elas berram, como se fossem um touro em dia de vitória, quando alguém não ler o sinal de ocupado no banheiro do avião e tenta insistentemente abrir a porta! A propósito, já houve quem respondesse olé.

Por outro lado, quando elas querem mostrar que somos únicos, a língua favorita faria um cafuné e quando explica o seu significado singular, cria uma atmosfera de simpatia e excitment, palavra esta que não dá para traduzir senão para entusiasmo, porque, para elas, excitação é uma obscenidade íntima, que não divulgariam em público, quiçá tem idioma próprio, como bem mostrou o filme “O último tango em Paris”.

Alguém disse Tango?! Nenhum idioma saberia defini-lo com clareza, porém numa tentativa, elas diriam que é um complexo movimento das pernas de duas pessoas, das quais uma das pessoas manuseia três das quatro pernas, e a segunda pessoa usa a que lhe restou combinada com a autoconfiança de uma libélula, que se equilibra perfeitamente no Aaaaar

Na linguagem do yoga, isso significa relaxamento puro. Basta inspirar, abrir a boca e Aaaaaahh.

Entretanto, nem só de flores vivem os seres comunicantes, sabem os linguistas. A esse respeito, há uma palavra que resume a dor sentida por uma tristeza tão profunda, que se esconde no nosso corpo: Weltschmerz é a palavra que abarca essa dor, pois significa dor de mundo (ou mundo de dor?), quando pelo que dizemos que sofremos é somente a ponta de um iceberg

E para abstrair dessa tristeza, subiríamos essa montanha, ou melhor, as línguas diriam wandern, que significa caminhar com o intuito de criar espaço para algo novo, circundando-se de silêncio; ou talvez preferíssemos afogar aquela tristeza, usando artifícios de natureza etílica, conhecidos como spirits, porque entorpecidos não a veríamos mais naquela escuridão. 

No entanto, para toda e qualquer linguagem, é inegável que depois de uma noite escura, nasce indubitavelmente um novo dia, e os ciclos repetitivos desmancham-se, outros eventos acontecem, ou talvez tenha chegado a hora de estarmos pronto para reconhecê-los, e amanhecemos transformados; elas adoram usar o verbo amanhecer como sinônimo de se transformar, acham que isso já é o começo de novos tempos. 

E nesse mundo cheio de perplexidade, elas possibilitam um elo entre a diversidade e a adversidade? 

Elas amam, são gratas por poderem expressar o que inúmeras vezes parece indescritível.

Já pensou em estudar um idioma? 
Começou e parou? É natural.
Já pensou em voltar a estuda-lo?
Então, esse artigo é um recado dos céus para você. Comece, recomece e se entregue ao novo.

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