terça-feira, 23 de agosto de 2011

Quem tem medo de cream cheese?

Você já venceu um medo? Não sei se o blog transmite uma aparência de que sou destemida e ousada. Em realidade, não é o caso. Cada frase, cada noite de tango, trabalhos, ou viagens têm os seus atropelos.

(Não vou mais mencionar a China, prometo).

Estou falando de um medo, ou quase um trauma. Isso soa familiar?

Em 2003, na minha primeira tentativa de esquiar, Murphy rondava a área, e eu tive um acidente; para piorar a situação eu não havia feito seguro de saúde. Em contrapartida, os anjos compareceram e o resultado foi apenas um corte de cinco pontos nas costas e uma conta de 800 dólares, que meus amigos me ajudaram a pagar.

Depois do ocorrido até o ano de 2009, a hipótese de esquiar inexistia nas minhas considerações.

No entanto, a vida é cheia de artifícios e, quando propõe um desafio, não o faz por meios próprios, ela usa o seu ser humano favorito para fazê-lo; pelo menos, foi assim comigo.

“Vamos esquiar, amor?”

Ao ouvir isso, aquele medo vestiu uma sainha justa; ficou num pé e noutro, querendo anunciar aos quatro cantos a periculosidade do esporte. Naquele momento, pensei até em mentir, dizendo que não gostava de esquiar.

“Mas você conseguiria resistir o olhar lânguido do seu ser humano favorito, propondo uma viagem à montanha, com o fim claro de ajudá-la a vencer esse medo?”

Eu não consegui; embora confesse que de 2009 até a semana passada, cada vez que eu cedia o pedido, eu me perguntava: “por que cedi?”

“Porque sim.”

“Agora me diga você, isso é resposta que convença o medo a partir?”

Tentei esquiar uma vez; não houve diversão; não dava nem pra enganar; a vida não desiste; tentei outra vez, e outra e outras; até que apertou o cerco... mais uma oportunidade surgiu no caminho.

“Christchurch, na Nova Zelândia, onde no dia 26 de fevereiro de 2011 houve o terremoto... é pra lá que nós vamos, amor. Você não gosta de viajar?”

“Ô. Só não precisava desse introito.”

E foi naquela cidade onde é possível sentir um misto de fascínio e temor ao ver, a cada quarterão, o efeito do terremoto e a capacidade das pessoas de recomeçarem, que aquele medo que controlava o corpo, impedindo o deleite da atividade física, cedeu espaço para um prazer infantil e descontrolado de esquiar, fazendo curvinhas, caindo e rindo muito.

Neve agora pra mim é cream cheese.

E quem tem medo de cream cheese?

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